Monday, October 07, 2013

Deu no Jornal: Papa condena o Nazismo. E veementemente.



Deu no Jornal: Papa condena o Nazismo. E veementemente.


Atualizado em 22/06/2012 às 0:21.

Fazendo uma pesquisa no Google por acaso descobri uma preciosidade: um arquivo completo com centenas de jornais digitalizados (e em ordem alfabética!), dos mais diversos lugares do mundo e de várias épocas. O link para o arquivo é esse: http://news.google.com/newspapers
Um deleite para quem gosta de fazer pesquisa histórica!
E também por acaso a descoberta foi feita justamente numa notícia que me despertou interesse instantâneo: um jornal de 1937 noticiava que os nazistas haviam censurado uma mensagem do Papa aos católicos alemães.
Após o livro “O Papa de Hitler”, do jornalista britâncio John Cornwell (cujas teses sobre cumplicidade entre o Papado e Hitler já foram rejeitadas pelo próprio autor – veja aqui), não está no gibi o que existe de historiador de plantão abrindo a boca para desferir os mesmos chavões ultrapassados sobre “o silêncio da Igreja” durante a perseguição aos judeus.
Chavões, tão somente. A verdade é que o Papa Pio XI já tinha condenado o nazismo em 1937, tanto em sua política racial quanto em seus ideias que ele dizia serem “neo-pagãos”. Pio XI não só condenou o nazismo como denunciou a “conspiração do silêncio” das outras nações ocidentais, que deixavam Hitler livre e não faziam ou falavam nada. O Cardeal Eugenio Pacelli, futuro Papa Pio XI, foi Núncio em Berlim e era considerado um dos maiores inimigos de Hitler pelo Reich; quando se tornou Papa, continuou levantando a voz contra o nazismo. Quando os Aliados sequer pensavam em enfrentar Hitler, estes Papas eram as únicas vozes no mundo a condená-lo (tanto que Hitler planejou o assassinato de Pio XII, mas o plano não deu certo – veja aqui). E hoje estes mesmos Papas são tachados de covardes e cúmplices de Hitler. Síndrome de culpa de quem podia ter feito algo quando eles pediam para fazer e não fez…
Mas bem! Encontrei diversos notícias em jornais da época confirmando que a relação entre Igreja e Reich não só era de farpas como já estava em conflito muito antes da guerra. Trocas de condenações, censuras, motociclistas indo distribuir na surdina mensagens papais proibidas aos alemães: são o tipo de coisas que essas notícias nos revelam. Portanto, aos historiadores de plantão, esqueçam o Cornwell: vão ao Google, olhem os jornais!
As notícias da época não deixam dúvida: os Papas e Hitler se odiavam.
A primeira notícia é do jornal The Milwaukee Sentinel de 21 de março de 1937 e a manchete é impactante: ”Nazistas denunciados pelo Papa Pio como anticristãos“.
O texto (Imagem 1, abaixo; notícia inteira aqui) diz:
Concordata com Vaticano violada pela Alemanha, diz o Pontífice; Desfecho do confronto com a Igreja se precipita. 
Por William Shirer.
O Papa Pio XI hoje em uma Encíclica de palavras afiadas aos católicos alemães abruptamente acusou o governo nazista de ter violado a concordata com o Vaticano e de favorecer movimentos anticristãos.” 
Há um momento na notícia em que se diz:
“Pelos eventos atuais, um espetacular desfecho no longo conflito entre a Igreja Católica Romana e o Estado Nazista parece inevitável”.
Isto é, em 1937, antes mesmo da Segunda Guerra Mundial, a imprensa já noticiava um “longo conflito” entre a Igreja e o nazismo.
Logo em seguida, se fala que o Papa condena a política racial do nazismo e suas doutrinas neo-pagãs:
“Isto pode ser ainda mais antecipado porque Sua Santidade, na Encíclica, denuncia energicamente a política nazista de supremacia da raça ariana e aponta o contraste entre os princípios católicos e as idéias ‘neo-pagãs’ nazistas”.
Segue a notícia relatando como a mensagem chegou aos católicos, sendo aventuradamente despachada em motocicletas para cada paróquia.
A Encíclica a que se refere a notícia é a Mit Brennender Sorge, disponível no site do Vaticanoem inglês.
Numa outra notícia, do jornal Spokane Daily Chronicle, de 23 de março de 1937, se relata a reação nazista à Encíclica (Imagem 2; a notícia está neste link):
Nazistas censuram mensagem do Papa
“O público alemão em geral ainda desconhecia hoje – tão distantes quanto os jornais ou o rádio estavam preocupados – a Carta Encíclica do Papa Pio em que o Reich foi acusado de quebrar a concordata Igreja-Estado de 1933.
Imprensa e rádio obedeceram rigorosamente às ordens do Ministério da Propaganda de não tocarem no assunto da carta, lida dos púlpitos católicos no domingo. No boca a boca, contudo, a notícia da ação incomum do Papa viajou com uma rapidez incrível.
Um porta-voz do governo recuperou fôlego suficiente para informar, indagado por correspondentes estrangeiros, que a carta do papa é honestamente lamentável.”
Dá para ver como a relação entre a Igreja e o Reich era “de flores”, como apontam certos “historiadores” de plantão por aí.
Uma outra notícia (Imagem 3; notícia completa aqui), do Pittsburgh Post-Gazette de 27 de março de 1937, dá uma ideia de como as relações ficaram ácidas após a Encíclica de Pio XI:
Enviados Nazistas novamente ‘esnobam’ Missa do Vaticano
Enfatizam mais uma vez que a raiva alemã ainda não passou.
Encíclica é citada.
Relações entre o Papa e Berlim se tornam mais tensas.
Embaixadores alemães junto à Santa Sé enfatizaram novamente que a raiva sobre a recente Encíclica do Papa Pio XI que denunciou a política nazista para com a Igreja ainda não passou, [e fizeram isso] esnobando a Missa de Sexta-feira Santa celebrada na Capela Sistina.
A notícia, ao fim, relata que o medo generalizado era que Pio XI desferisse novas condenações na Encíclica que sairia em alguns dias, sobre a perseguição dos comunistas aos cristãos no México:
Outra Encíclica em breve.
O Premiê Benito Mussolini está usando sua influência junto a Berlim para prevenir uma ruptura entre a Igreja e a Alemanha, ressaltando a cooperação proveitosa e pacífica entre a Igreja e a Itália.
O Papa Pio irá lançar sua terceira Encíclica dez dias a partir de amanhã. A Encíclica vai tratar da situação da Igreja no México e são esperadas condenações para várias políticas do governo que se alega serem programadas para cercear a liberdade religiosa. Algumas pessoas acreditam que o Papa possa novamente fazer referência ao problema alemão.”
Sobre o Papa Pio XII, uma notícia do Toronto Daily Star, de 2 de junho de 1945 (Imagem 4; disponível inteira aqui) traz como manchete uma palavra do Pontífice e no texto condenações  enfáticas dele mesmo durante um discurso:
Permitam que se acalmem as paixões para que a paz possa falar, diz o Papa.
Numa transmissão de hoje, o Papa Pio XII demonstrou esperança de que a a nação alemã possa ‘se levantar com nova dignidade e nova vida uma vez que tenha subjugado o espectro satânico levantado pelo nacional socialismo e os culpados tenham expiado os crimes que cometeram’.
Ele clamou pela punição dos crimes de guerra nazistas e disse que o ‘repentino e trágico fim’ de Hitler acabou com a perseguição à Igreja Católica pelo nazismo”.
A notícia segue trazendo trechos da mensagem de Pio XII, todos desferindo dardos ácidos contra o nazismo e demais ideologias revolucionárias que fazem valer suas ideias “pela violência, pela subversão e pelo despotismo”.
Em um momento, recolhe-se palavras do Papa sobre os assassinatos e deportações de civis por sua religião ou raça:
“‘Nós temos de deplorar que – em mais de uma região – tenham ocorrido assassinatos de padres, a deportação de civis e a matança de cidadãos sem julgamento ou por vingança pessoal’, disse o Papa.
[...]
O Papa ressaltou que o seu predecessor, o Papa Pio XI, condenou o credo nazista na Encíclica publicada na Sexta-Feira da Paixão de 1937, intitulada ‘Com Ardente Tristeza’ (N.T.: Se refere à Encíclica Mit Brennender Sorge, da qual falamos anteriormente). O documento papal ‘assustou as mentes e os corações dos homens’, declarou o Pontífice. ‘Muitos – mesmo além das fronteiras da Alemanha – que fecharam seus olhos para a incompatibilidade entre os pontos de vista nacional-socialistas e o ensino de Cristo tiveram de reconhecer seu erro’.
Falando de sua própria política durante a guerra, o Papa disse que ‘constantemente anunciou as exigências das leis perenes da humanidade e da Fé Cristã, em contraste com as trágicas aplicações dos princípios do Nacional-Socialismo que foram muito longe em utilizar os mais requintados para torturar ou eliminar quem frequentemente era inocente’.
Ele falou de milhares ‘cuja única culpa era a sua fé’ que morreram nos campos de concentração nazistas.”
 O discurso inflamado de Pio XII contra o nazismo cujos trechos foram recolhidos pelo Toronto Daily Star também foi notícia – e com ainda mais detalhes – na edição de 3 de junho de 1945 do The Telegraph-Herald de Dubuque, Iowa (Imagem 5; disponível inteiraaqui):
PAPA CONDENA NAZISTAS
E fala sobre o quanto a Igreja sofreu na Guerra.
Papa acredita que uma nova Alemanha ressurgirá das ruínas da guerra.
O Papa Pio XII transmitiu sábado uma solene condenação do nazismo e expressou sua confiança de que uma nova Alemanha surgirá ‘com nova dignidade e nova vida após ter lançado fora o satânico encantamento do nacional socialismo’ (N.T.: É o mesmo discurso anterior, porém a notícia traz com outras palavras; traduzimos como estava em cada uma delas).
[...]
O Pontífice deu alguns números das negociações entre a Igreja Católica e o governo nazista desde a ascensão de Hitler. Falou sobre os 2.800 padres poloneses que estavam presos no famoso campo de concentração de Dachau e dos quais sobreviveram apenas 816.
[...]
O Papa relatou em detalhes a destruição de Igrejas, de escolas paroquiais, a pressão de Hitler sobre a juventude para afastá-la da Igreja, a supressão da imprensa católica e a difamação do Clero.
[...]
Sua Santidade relembrou os esforços de seu predecessor que numa Encíclica em 1937 ‘revelou aos olhos do mundo inteiro o que o nacional-socialismo realmente era [...] uma adoração do poder, uma idolatria da raça e uma opressão sangrenta à liberdade e dignidade do homem.
[...]
Falou também em detalhes sobre a perseguição dos católicos, tanto clérigos quanto leigos, como também outras pessoas inocentes. Citou ainda números das taxas de mortalidade nos famosos campos de concentração nazista…”
Os fatos históricos e os documentos da época atestam, pois, que não houve nunca cumplicidade entre a Igreja e os nazistas. Pelo contrários, as notícias da época dão nota de que havia um longo e acirrado conflito entre a Igreja e os nazistas mesmo antes da Segunda Guerra Mundial; quando Pio XI publicou a sua Encíclica contra o nazismo – sendo o primeiro líder no mundo a levantar a voz contra o Hitler - essa oposição se acirrou ainda mais e as perseguições e assassinatos de padres e católicos foram incrementadas. Pio XII, que já trabalhava contar o nazismo como Núncio em Berlim, subiu ao Trono Pontifício e logo enfrentou o drama da Guerra, se tornando a única voz moral a exigir a prevalência da dignidade humana frente à crueldade nazista. E isso tudo diante do silêncio de toda a comunidade internacional, que cortejava Hitler e só resolveu enfrentá-lo muito tardiamente.
Quantos poderiam ter sido salvos se o apelo destes dois Papas tivesse sido ouvido desde o começo?
E como acusar os únicos homens que fizeram algo quando ninguém mais fazia de serem cúmplices do nazismo?
Contra afirmações tão ignorantes como essa, só digo uma coisa: dê um Google!

——

Seguem as imagens.


“Sábado, 27 de Maço de 1937”.

“Relação entre PAPA e Berlin está cada vez mais tensa”.


Para quem não sabe, ou, finge que não sabe, essa placa foi doada no ano 1946 pelos Judeus à igreja em nome do Papa Pio XII.
Observem o que está escrito na placa:
Moção aprovada pelo Terceiro Congresso da Comunidade Israelita Italiana realizado em março de 1946.
“O Congresso dos Delegados das comunidades israelitas italianas, realizado em Roma, pela primeira vez após a Libertação, é obrigado a pagar tributo a Sua Santidade, e, para manifestar o mais profundo sentimento de gratidão de todos os judeus, por mostrar a Fraternidade humana da Igreja durante os anos de perseguição e quando suas vidas foram postas em perigo pelas atrocidades nazifascistas. Muitas vezes, sacerdotes suportaram prisões e campos desconcentração e até mesmo sacrificaram as suas vidas para ajudar os judeus. Essa prova que o sentimento de bondade e caridade que ainda conduz o justo tem servido para diminuir a vergonha das indignidades suportadas, o suplício sofrido das perdas de milhões de seres humanos. Israel ainda não terminou o sofrimento: Os judeus sempre lembrarão o que a Igreja, sob ordens do papa, fez por eles naquele momento terrível”.
Fonte: Cai a Farsa.

Veja mais em:
  • https://flaviadt.blogspot.com/2019/03/igreja-catolica-condenou-o-nazismo.html



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