O reflorestamento de um patrimônio
Duda Menegassi - 17/12/12
Engenhos, sítios e fazendas preenchiam as enconstas arborizadas dos morros da Floresta da Tijuca. Os inúmeros rios e fontes d’água eram providenciais para irrigar as plantações. Eram terras muito valorizadas e que interessou até gente do outro lado do mundo: chineses vieram plantar chá, numa iniciativa malsucedida que não durou muito. O que foi um sucesso foi um pequeno fruto vermelho, introduzido no Brasil no século XVIII, o café.
A Floresta foi o ambiente perfeito para recepcionar essa plantação no Rio de Janeiro. Pois a cultura de café precisava de solos que não fossem secos nem úmidos em excesso, e de temperaturas mais amenas. Os cafezais subiram o Maciço da Tijuca e as árvores vieram à baixo. A marcha do café consumia à exaustão as terras até empobrecê-las totalmente e então desmatava novas áreas de mata para recomeçar o plantio. Não havia consciência ecológica, porém como causa direta do desmatamento contínuo, houve uma crise no abastecimento de água que deixou a cidade do Rio de Janeiro na seca em 1843.
O processo de reflorestamento foi comandado pelo Major Manuel Gomes Archer, nome que hoje está eternizado no Morro do Archer, uma homenagem a esse grande personagem na história da Floresta. Há quem diga que apenas ele com a ajuda de seis escravos fizeram todo o trabalho de plantação de mudas, mas é mais provável que essa tenha sido apenas sua equipe inicial, pois 22 trabalhadores assalariados foram contratados para auxiliá-lo. A desapropriação de terras e o replantio de mudas nativas da Mata Atlântica durou 13 anos nas mãos do Archer, período em que cerca de 100 mil mudas - não há um número preciso - foram plantadas.
A tarefa depois foi assumida pelo Barão d’Escragnolle, segundo administrador da Floresta e pouco lembrado na história do reflorestamento da Floresta da Tijuca, em 1874. Além de seguir com o plantio de mudas até 1888, ele se preocupou em transformá-la em área de lazer, como o Lago das Fadas, que concebeu ao lado do paisagista francês Augusto Glaziou.
A partir desses 27 anos de trabalho de preservação iniciado pelo homem, o bastão foi passado para a própria natureza assumiu a missão de se regenerar e consolidar a recuperação da floresta que quase perdeu seu status de Floresta, com F maiúsculo. Hoje uma mistura de áreas replantadas e de outras recuperadas naturalmente, cada árvore tem uma história para contar. Ou melhor, o homem é que pode contar com esse espaço preservado de beleza sacra onde a natureza ensinou, talvez pela primeira vez aos cariocas, a importância da sua conservação.
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