A Lenda da visita do Apóstolo São Tomé ao Brasil
Talvez por isso mesmo tenha sido escolhido para a difícil e longínqua missão de evangelizar as índias, a Inferior e a Superior, onde foi morto martirizado com lâminas de ferro aquecidas ao fogo e traspassado por uma lança ou por uma espada. É o que nos contam São Jerônimo, São Gregório de Tours e Jacques de Voragio, autor da "Lenda Áurea Isidoro, que escreveu a "Vida e morte dos Santos", nos diz que São Tomé pregou o Evangelho aos Partas, Medas, Persas, Bactrianos e Hindus.
O Apóstolo que pregou o Cristianismo por mais remotas e desconhecidas terras, os descobridores, catequistas e exploradores cristãos da época febril das conquistas navegações julgaram encontrar por toda parte aonde chegavam notícias ou sinais de sua passagem.
Certas coincidências entre a religião cristã e as crenças dos povos com que entravam em contato, avultadas ou desvirtuadas pela imaginação dos missionários e cronistas, o encontro de símbolos, como a cruz, no seio de exóticas culturas, as lendas que corriam entre várias nações indígenas da América da pregação e ensinamento feitos por homens brancos e barbados, tudo isso levou ao pensamento de que um dos Apóstolos aportara outrora ás terras que agora os europeus descobriram.
Rezando as agiografias que São Tomé se destinara às índias e percorrera longínquas regiões, naturalmente foi o escolhido para representar o papel do misterioso personagem que, nas brenhas das índias Ocidentais, a América, deixara o sinal da cruz e a memória duma iniciação mental e moral. Para esses cronistas , na América se acha o eco da passagem de São Tomé e da existéncia da cruz. Na "Relation de la Gaspésie", diz o Padre Lecrec que os índios do Canadá Oriental conheciam a cruz, que lhes aparecera após o dilúvio como uma promessa de esperança.
Nas "Antiquities of Wiscousin", Laphaw conta que os Peles Vermelhas construíam os terraplenos de seus ídolos ritualmente em forma de cruz. Os Incas, segundo Garcia de la Vega, tinham uma cruz de jaspe que os espanhóis puseram na Catedral de Cuzco.
Orozco y Berra chama a atenção para a repetição da cruz nas antigas pinturas dos astecas. Humboldt, Warden, Dupaix, deck e outros cientistas e viajantes verificaram a caisténcia dos símbolos cruciformes nos templos, inscrições, cerâmicas, couros de tendas, utensílios e adornos dos habitantes das Américas.
Relata o padre Montoya que os primitivos índios do Paraguai conservavam uma cruz trazida em longínquos tempos de além-mar por um homem branco. Esse "homem branco* aparece em todos os lugares.
No vale de Quito, pregava uma doutrina desconhecido e chamava-se Tomé, segundo Alonso de Ovalle. Em 1538, conforme documenta Torquemada com uma carta de Frei Bernardo de Armentia, oscatequistas eram chamados pelos índios de irmãos de São Tomé.
Gonzalez Suarez assinala a crença dos indígenas do Equador de serem as inscrições rupestres em forma de pé humano pegadas do Apóstolo branco e barbado.
Enfim, a lenda de São Tomé chega ao Brasil quando Frei Bartolomeu de Ias Casas, na "História Apologética" registra que "“Nas terras do Brasil que os portugueses possuem, imaginam encontrar vestígios de São Tomé, Apóstolo.”
Escreve o Padre Simão de Vasconcelos na sua "Crônica da Província do Brasil que havia entre nossos índios a antiquíssima tradição dum branco barbado que, após o dilúvio, pregava coisas desconhecidas e se chamava Sugue, o que quer dizer Tomé. Frei Gregório Garcia, autor das "Origens de los Indios del Nuevo Mundo", refere-se a essa pregação e dá a Sumé. ou Tomé o nome de Paicumá com esta fantástica etimologia: Paicumá é enrrutela de Mairomás, de Mair, o peregrino barbado e vestido e Omás, que é Tomás sem o T...Las casas acrescenta que São Tomé passou por entre as tribos indígenas do Brasil, tendo ele visto suas pegadas nas pedras dum rio.
Esses misteriosos litoglifos, ou rastro sagrado dos hindus, também são considerados sinais da passagem de Buda e de Adão. No Ceará. atribuem um deles ao grande catequista jesuíta da Ibiapaba. Padre Pinto. Para André Thevet. nas "Singularitez de la France Antarctique", o grande pajé divino Sommay (Sumé era pai de Tamendouare Tamandaré), o Noé dos Tupis.
Ferdinand Denis, comentando essa referencia, propõe que seria Sommay, progenitor dos povos segundo a tradição Indígena. Aleide d'Orbigny, na sua Voyage dans l'Amerique Meridionale" conta que dos ritos de "Tamol" entre os índios Guaratos, que o conjuravam a voltar a terra a fim de ajudá-los como antigamente o fizera .
É muita curiosa coincidência dessas semelhanças e aproximações. O capuchinho Yyes d'Evreux esteve no Maranhão de 1613 a 1514. Fala sobre os "Maratas de Tupã" chamavam os Apóstolos pregando o evangelho aos selvicolas, e compara o Sumé não com S Tomé. mas como S Bartolomeu
Finalmente. o Padre Manoel da Nóbrega dá noticia da figura lendária dos índios com o nome de Zomé. que o historiador Southey compara ao "Zeni" dos haitianos.
Esta palavra significa homem divinizado. De tudo isto conclui-se o seguinte': 1° Existência na América de símbolos cruciformes em inscrições rupestres e artefatos. 2° Existincia na América da lenda do aparecimento em tempos remotos de Iniciadores. civilizadores ou pregadores de novas doutrinas. I,barbados e brancos. cujos nomes variam de pais a país: Quetzalcoatl e Cuculcan no México. Zamna ou Bochica na Colômbia. Viracocha e Manco-Capac no Peru:
Sommay Tomai. Zomé e Sumé no Brasil. Confluência dessas tradições e da trazida pelos descobridores do apostolado remoto de S. Tomé. companheiro do Cristo e do de S Tomé de Meliapor formando a lenda da estadia e evangelização de S. Tomé no Brasil com predomínio natural do Apóstolo, por ser mais notável e a crença consequente nos litoglifos em forma de pes como sinais de sua miraculosa passagem. " Fonte: "Apóstolo São Tomé no Brasil" por Gustavo Barroso
Imagens: Igreja Matriz de São Thomé das Letras, Minas Gerais e Petroglifo na Baía de Paranaguá.